#2 - Clube do livro: Carta a uma jovem escritora de Wallace Stegner
A escrita é para os obcecados pela perfeita comunicação
O Clube do Livro (versão Beta) começou com um artigo que representa o nosso ponto de partida como escritoras. Escolhi ele para que possamos nos inspirar em busca de uma linguagem única e atrevida, dentro do nosso ofício de construtoras de palavras.
Esse foi um dos primeiros textos que li na Pós Graduação do Vera, e foi traduzido por Roberto Taddei. Está disponível na revista Revera (inclusive tem artigos excelentes lá, eu recomendo). As palavras de Wallace Stegner parecem tão recentes mas já estão 64 anos distante de nós. Sim, este artigo foi escrito em 1959.
Sabemos a data, sabemos que foi publicado pela primeira vez na revista The Atlantic, mas o que não sabemos é se essa jovem escritora realmente existiu, ou se Stegner escreveu essa carta para ele mesmo quando jovem.
Antes de começarmos eu quero que você repare no formato do texto: é uma carta, mas ao mesmo tempo um artigo; não é técnico, mas o mesmo tempo nos ensina muito; tem uma certa teoria, mas é um texto de opinião de um escritor que viveu o mercado literário (pelo menos do mercado literário do meio do século XX).
Como um artigo tão antigo pode nos ensinar tanta coisa?
Bom, temos que pensar que algumas coisas são imutáveis. Acredito que a literatura seja uma dessas coisas que não mudam. Vejam, ainda falamos de Shakespeare, como se ele não tivesse nascido em 1654. O que é muito assustador para falar a verdade, hoje ele teria 370 anos e suas histórias ainda são replicadas, e contadas, e estudadas, e amadas.
Um dos meus filmes preferidos da vida é Romeu + Julieta do Bar Luhrmann. 26 anos desde o lançamento dessa pérola do cinema:
Ou seja, a literatura é realmente imutável.
O que são 64 anos perto de 370 anos?
Absolutamente nada.
Wallace Stegner foi um grande escritor americano, mas só grande entre os estadunidenses, porque no Brasil seus livros chegaram, mas não foram reeditados. Ou seja, você só vi conseguir ler a sua obra se encontrar seu nome em um sebo.
De qualquer forma, ele deixou um legado com esse pequeno artigo que enche nossa cabeça de significado.
“Naturalmente, não estou dizendo algo tolo como “valor literário” ser incompatível com “popularidade”. As duas coisas mostraram-se compatíveis com muita frequência, geralmente quando o autor em questão demonstra possuir um toque de humor, sensibilidade, violência, sensacionalismo, sensualidade, a capacidade de chocar, e, ainda por cima, eleva tudo isso ao nível de arte.
Nesse trecho ele dá um conselho importante: o que um autor precisa colocar em sua obra para que ela alcance o sucesso tanto crítico, quanto comercial.
Depois ele ensinou sobre o oficio da escrita:
Para início de conversa, você nunca considerou a escrita uma forma de autoexpressão, ou seja, de autoindulgência. Você compreendeu, desde o princípio, que escrever se faz com palavras e sentenças, e gastou centenas de horas educando sua escuta, escrevendo e rescrevendo, até começar a manejar combinações de palavras com a naturalidade de quem muda os tons utilizando apenas a língua e os lábios ao assobiar.
Escrever é juntar palavras e frases, enquanto a gente vive a vida e escuta os barulhos ao nosso redor. Além disso, temos que escrever e reescrever até chegarmos na melhor combinação de frases possível.