Ser ou não ser mãe, eis a questão
Julia Dantas aborda a maternidade de modo leve e divertido em A mulher de dois esqueletos.
Por que ler mulheres, brasileiras e contemporâneas? Porque suas obras conversam diretamente com questões presentes no meu dia a dia como mulher. Eu dizia (digo): “eu quero ser pai, não quero ser mãe”, e acabei lendo uma frase similar no livro A mulher de dois esqueletos da Julia Dantas.
“Um pai precisa fazer muito pouco para ganhar um superlativo e ser paizão, basta que leve a criança num churrasco, que saia sozinho com ela, que busque no colégio. Então, é isso, eu queria mesmo ser pai. De preferência, um pai divorciado, que pode escolher ser pai só a cada quinze dias”. Página 61.
Ah, a gente conversou com a Julia Dantas no podcast do Clube Contemporâneas. Você pode escutar a nossa conversa aqui:
É fácil ser um pai moderno!
Só precisam ser uma pessoa decente que dê atenção ao filho. Alguns não fazem nem isso, pais ausentes. Outros, postam fotos com seus filhos como se fossem “paizões”, apenas de 15 em 15 dias, mas sem precisar levar na escola, no médico, nem trocar fraldas. Colocar a criança para dormir, fazer papinha, ficar acordado em caso de febre, ou dor de dente, é uma escolha e não uma obrigação como é para as mães.
Ser mãe é mandatório, ser pai é escolha.
Eu amo crianças. Acho bebês adoráveis, mas a responsabilidade de ser mãe é assustadora. Pois este é um trabalho vitalício e gratuito. Além de ser dispendioso, porque não se recebe um salário para ser mãe, gasta-se: tempo, vida, saúde mental. Por isso, queria ser pai. O trabalho é mais tranquilo. O pai pode aparecer pouco, gastar pouco, cuidar pouco, afinal, os sonhos e as carreiras são mais importantes.
É óbvio que existem exceções, não estou generalizando, eu tive um pai presente e sei que existem homens que cumprem seu dever. O problema é que o dever do pai, é sempre mais tranquilo do que o de ser mãe.
Os pais podem deixar o filho para viver seus sonhos e focar em seu trabalho. Mães, não.
São essas questões abordadas no livro A mulher de dois esqueletos:
Ser ou não ser mãe, eis a questão.
Em uma narrativa fragmentada, divertida e consciente, Julia Dantas aborda a grande questão feminina do século 21: ser ou não ser mãe. Confesso que ao fim da leitura de A mulher de dois esqueletos cheguei a conclusão de que não quero ser mãe.
Porém, não posso negar que ainda insisto no “e se”. Mas esse “e se” é para sempre, sem possibilidade de retorno.
A protagonista, uma mulher não nomeada, é escritora, mas não consegue escrever. A procrastinação combina-se ao desejo da maternidade e confunde tanto a personagem, quanto a gente. É possível viver de uma forma de criativa e ser mãe? É possível realizar seus sonhos enquanto cuida de uma criança? Julia experimenta essas possibilidades entre contos, listas, relacionamentos e a pandemia.
A mulher de dois esqueletos é um livro divertido, que aborda temas importantes de forma leve e descontraída.
O livro foi a nossa segunda leitura no Clube do Livro Contemporâneas, onde lemos mulheres brasileiras e contemporâneas (vem conhecer o clube aqui), e não poderíamos ter escolhido melhor, pois ele gera percepções diversas e traz um debate interessante, com diversos pontos de vista, sobre o tema.
Recomendo fortemente a leitura e indico, mais uma vez, que escutem a conversa que tivemos com a autora:
Atenciosamente,
Ana
Só pra dizer que compartilho do encantamento com a Júlia (tô prestes a ler este) https://tdgermano.substack.com/p/carta-a-julia