Eu sou feia para as redes sociais
É loucura pensar que se meu rosto fosse um pouquinho mais simétrico e meus peitos maiores eu já teria alcançado um público grande nas minhas redes?
Eu não sou bonita o suficiente.
Esse é um pensamento que passa pela minha cabeça há anos: Eu não sou bonita o suficiente.
Na sociedade que a gente vive ser bonita é importante. Fico pensando que se meu rosto fosse um pouquinho mais simétrico e meus peitos maiores eu já teria alcançado um público grande nas minhas redes sociais.
Você também pode escutar esse artigo no meu podcast Crônicas e Cólicas:
Ou isso seria só uma loucura da minha minha cabeça?
Essa coisa de criar conteúdo seria muito mais fácil se eu balançasse meus cabelos despretensiosamente em frente as câmeras sem nunca ter sentido uma insegurança na vida. De qualquer forma só funcionaria se eu tivesse a aparência um pouco mais agradável.
Olhe as pessoas que você segue, quantas não são bonitas?
Bonita mesmo, nariz fino, corpo magro, cabelo esvoaçante, pele perfeita, que nem parece que usa maquiagem.
Mulheres bonitas tem vantagens e privilégios.
Eu sei que falo de um lugar de privilégio por ser uma mulher branca, midsize, padrão, meu namorado diz que eu sou bonita e minha mãe também. Mas eu não sou bonita, bonita, sabe? Aquela beleza perfeita das redes sociais (talvez ninguém seja, mas esse não é o ponto aqui).
Eu sou apenas normal!
Feia para alguns, bonita para outros, mas não bonita o suficiente para ser chamada para fazer fotos, ou para ganhar milhões de seguidores apenas por conta do meu rostinho.
Eu vou ser sincera com você:
faz pelo menos uns 5 anos que eu não deixo a minha aparência afetar a minha autoestima.
Porque não importa, você pode ter o corpo da Gisele Bündchen e se odiar!
Juro, você não precisa ser bonita, ou se sentir bonita, para ser confiante. Não precisa. Eu tenho uma teoria de que crianças que cresceram muito bonitas e eram elogiadas pela aparência se sentem muito mais obrigadas a manter essa beleza do que crianças que foram feias.
Digo isso porque eu cresci feia, de acordo com os padrões preestabelecidos.
Eu era uma criança gordinha, quando a norma era ser magra, eu tinha muitas acnes inflamadas no meu rosto, quando a norma era ter a pele lisinha, eu tinha o cabelo armado e ondulado, quando a norma era ter cabelo liso. Isso me diferenciava muito das meninas magras, com pele de porcelana e cabelo liso. Eram essas meninas que tinham namoradinhos e eram populares, enquanto eu estava lutando para me tornar uma pessoa mais legal.
Eu falhei miseravelmente em ser legal também!
Como eu poderia ser legal com quem fazia bullying comigo?
Não tem como.
Então, o que eu fiz?
Fui para os livros, porque ser inteligente e interessante era a única coisa que ninguém podia tirar de mim. Era uma forma de me auto afirmar, entende? Enquanto os meninos me zoavam pela minha aparência, e as meninas me ignoravam, eu ia para a biblioteca ler e por dentro eu me sentia superior, porque eu era mais inteligente que todo mundo ali.
Claro, era uma válvula de escape, uma hipocrisia!
Eu pensava "sou feia, mas pelo menos não sou burra como meus outros colegas, quando na verdade queria ser bonita e popular", mas depois isso me deu uma casca, sabe?
Além de entender que a vida é muito mais do que aquelas pequenas dinâmicas de poder de uma escola infantil.
Vou ser sincera de novo:
Ter me esforçado para ser uma pessoa mais inteligente, me deu uma autoestima que nenhuma rinoplastia, ou silicone, poderiam me dar.
Eu continuava feia, porém, eu queria mais da vida!
Ser bonita deixou de ser importante e eu comecei a desejar viver, viajar, fazer coisas que ninguém mais fazia.
Com 15 anos eu descobri o que era ser bonita de acordo com os padrões sociais.
A gordura da minha barriga foi para as minhas pernas, eu cresci, aprendi a alisar meu cabelo, minhas espinhas sumiram graças ao antibiótico que tomei e finalmente conseguia chamar a atenção dos meninos.
Eu tinha ficado bonita!
Juro, lembro até hoje da sensação de entrar em um colégio novo e escutar que eu era bonita. Por muito tempo era essa a aprovação que eu queria. E naquele momento eu tive.
Depois na faculdade eu descobri que eu nem era tão bonita assim para um certo grupo da sociedade e tive que lidar com isso.
Aprendi a ser mais interessante do que bonita.
Aprendi a ser mais charmosa do que bonita.
Aprendia a ser mais atrevida do que bonita.
Entendi que não vou agradar todo mundo!
Aprendi principalmente que os homens que escolhem as mulheres pela beleza, não vão nunca respeitar uma mulher como uma igual. Porque afinal, mulheres bonitas representam um troféu para esses homens.
A gente sabe disso, por isso temos tanto medo de envelhecer.
Claro, apesar de sabermos de tudo isso, a gente sabe que beleza importa financeiramente, sim, mulheres mais bonitas tem mais visualizações nas plataformas e consequentemente mais dinheiro.
Mulheres bonitas ganham mais!
Li um estudo recentemente que dizia que mulheres mais atraentes ganhavam 22% a mais que mulheres de beleza mediana.
Enfim, mulheres bonitas ganham mais.
Mas calma, elas ainda não ganham como os homens.
Isso nunca poderia acontecer, claro. Como, nós, meras mortais, de beleza mediana compete neste mundo machista? Temos que ser melhores que todos eles. Eu já tinha entendido isso quando me escondia na biblioteca porque ninguém queria passar o recreio comigo. Eu não sou bonita o suficiente para viralizar e ganhar dinheiro pela minha aparência.
O que eu posso fazer?
Pelo menos continuo tentando encontrar uma linguagem genuína. Sempre vou questionar, o que seria da minha vida se eu fosse um pouco mais bonita? Eu nunca vou saber e está tudo bem. Eu não preciso ser mais bonita, eu sei disso, mas se eu fosse, o que aconteceria? Ou o que teria acontecido comigo? Eu nunca vou saber.
Acho que estou em um momento da minha vida que entendo:
tenho que aceitar a vida como ela é
Eu não vou fazer nenhum procedimento estético invasivo, como preenchimento com ácido hialurônico, ou botox, ou bio-estimuladores de colágeno. Muito menos um cirurgia estética que vai alterar o meu corpo.
Toda cirurgia é um risco e eu acredito que a minha vida vale muito mais do que ter um corpo bonito.
Ainda me maquio, adoro skincare e cuido muito bem do meu cabelo!
Eu ainda gasto dinheiro para ficar mais atraente, mas tudo dentro de um limite que eu acredito ser saudável para mim, entende?
Acho que temos que entender quais são nossos limites.
Talvez você deva se perguntar:
O que mudaria na minha vida se eu colocasse silicone?
Eu transaria mais?
Ou nem isso?
O que mudaria na minha vida se eu fizesse uma rinoplastia?
Ou uma lipoled?
Eu seria amada como mereço?
Eu seria mais confiante?
Ou não?
Acho que é uma questão de balancear esses questionamentos e ver se correr o risco de morrer vale à pena. Eu acho que não, mas é porque estou satisfeita com a minha vida.
E o que eu desejo conquistar não depende da minha aparência física.
Eu não sou bonita o suficiente para viralizar e me tornar uma influenciadora riquíssima, mas tudo bem, porque nada que eu fizer vai mudar isso.
O que eu poderia fazer tem um custo muito alto que não quero pagar.
Mas vai ver isso é só uma ilusão da minha cabeça e não tem problema porque esse artigo é sobre as loucuras da minha cabeça.
Se você se identificou deixa um comentário, vamos conversar.
Até mais, beijos.
Esse artigo foi feito originalmente para o meu podcast Crônicas e Cólicas!
Disponível aqui:
Também tem a versão em vídeo no Youtube:
Disponível aqui:
Amiga, você já leu uma HQ que se chama “Na Sala dos Espelhos” da Liv Strömquist??
Eu lembrei muito desse livro lendo seu texto pq essa autora começa falando sobre essa questão da beleza nas redes sociais, mas vai fundo até questionar a beleza da mulher como moeda de sobrevivência social. Recomendo demais a leitura!
Que porrada de texto! maravilhoso! obrigada por isso.