Vício em pornografia, feminicídio e tudo que e há de mais terrível na misoginia
É isso que encontramos em Páradais da Fernanda Melchor
Ontem tivemos a primeira reunião do Clube Alinhavo aberta para novas participantes, onde lemos Páradais da Fernanda Melchor. O objetivo do Alinhavo é ler de maneira crítica livros escritos por mulheres da literatura mundial, para assim adquirirmos um olhar feminista para a construção literária.
Começamos logo com um soco na cara!
Eu sabia que Fernanda Melchor não escreve para apaziguar nossos sentimentos em relação ao mundo que nos rodeia, ela escreve para destruir nossas convicções de um mundo melhor.
Eu acho isso ótimo:
acredito que a literatura deve ter esse tom rebelde, ousado e até expurgatório.
Eu já tinha lido Temporada de Furacões (primeiro livro da autora publicado no Brasil), um livro maravilhoso, mas extremamente pesado, que se tornou um dos meus favoritos, então, a expectativa para Páradais estava alta.
No condomínio de luxo Páradais nós conhecemos Polo e Franco, dois adolescentes que vieram de classes sociais completamente distintas mas que se uniram pela solidão e o álcool.
Os dois são seres condenáveis, mas ao mesmo tempo complexos, humanos e carentes.
O que não justifica o que eles vieram a fazer. Porém, isso escancara a violência presente em uma sociedade regada a pornografia, que intensifica a cultura do estupro.
Polo, o jardineiro do condomínio, está cansado de sua vida e das obrigações imputadas a ele. Franco tem tudo, é um menino rico, riquíssimo, mas não tem atenção dos adultos responsáveis.
Um quer fugir da miséria, o outro quer a única coisa (Franco pensa que o corpo feminino é um objeto) que não tem: a vizinha Marián, uma mulher mais velha que me lembrou muito a Sofía Vergara.
É o desejo de coisificar o corpo feminino que dá início ao terror experimentado pela vizinha e a família dela!
Não é um livro fácil, não é um livro agradável, mas sua sofisticação é clara: a autora tem uma grande sabedoria ao utilizar os artifícios literários. Fernanda escreve com fluidez em um fluxo de consciência moderno, sempre do ponto de vista de Polo, que mente para si mesmo (e consequentemente para o leitor), sobre suas motivações e acontecimentos passados em uma narrativa verborrágica.
Confesso, Páradais não me pegou tanto quanto Temporada de Furacões, mas não deixa de ser uma obra prima moderna. Fernanda Melchor é a literatura moderna mexicana, Fernanda Melchor é a literatura latina, Fernanda Melchor é o que temos de mais atual e relevante hoje. Tudo que ela escreve é válido.
Fiz uma análise completa no Clube Alinhavo para as minhas alunas!
Você pode acessar a gravação se inscrevendo aqui!
Nossa próxima leitura será Em fogo lento da Paula Hawkins, a mesma autora de A garota no trem.
Saiba mais sobre o Alinhavo aqui: https://anabarros.co/alinhavo
Vem ler comigo?
Preparo sempre um material especial e exercícios de escrita para minhas alunas.
Beijos,
Ana