Fui rejeitada pela Companhia das Letras
Querida leitora, perceba a força que tem e não permita que os "nãos" a impeçam de alcançar o que deseja.
Esse artigo tem algumas camadas: comecei a escrever em Janeiro, três meses depois retornei a ele e por fim, hoje, dia 17/04, reescrevo sentimentos que parecem ter ficado ao passado.
Gosto de como as emoções diluem-se ao longo dos meses e, se eu não tivesse começado a escrever sobre “ser rejeitada pela Companhia” exatamente quando aconteceu, provavelmente não estaria pensando neste assunto.
O texto está em formato de diário.
Vamos voltar no tempo depois da divisória:
Hoje, dia 10/04, retorno ao texto que ficou guardado na caixa de rascunhos por quase três meses. Estava sem coragem de publicá-lo, afinal, lidar com uma frustração calada é mais fácil que expô-la.
Volto a ele porque acho que você pode se identificar.
Volto a ele porque sinto que preciso ser corajosa e mostrar para meus leitores que, no mercado literário, é comum ser rejeitada.
Dou aulas de Escrita Criativa e tenho alunas que me acompanham. Elas, como eu, desejam ser representadas por grandes casas editoriais. Existe uma pressão velada para “chegar lá”. Estar em uma editora grande é um atestado de qualidade literária. Primeiro, porque eles não publicam qualquer pessoa; segundo, pelo trabalho editorial cuidadoso e detalhado que fazem.
Ser rejeitada pela Companhia é comum, quase todo escritor já foi, saber disso não significa que dói menos. Talvez, eu só esteja sendo dramática, depois de ter sido picada pelo bichinho da escrita, que me faz escrever sobre tudo e todos.
Também não sei se sou a mesma pessoa que escreveu isso três meses atrás, mas se fui e devo honrá-la.
Fique para o epílogo.
Segue o texto:
Hoje, dia 16/01, recebi um e-mail que me abalou.
Ele dizia “a equipe de leitores da Companhia das Letras não vai sugerir seu livro para publicação.”
Meu segundo livro não será publicado pela maior editora do país. Senti-me à deriva. Sinceramente, eu não esperava essa publicação, pelo contrário, sei que o livro ainda não está pronto para ser publicado, mas também sei que, se ele fosse trabalhado por um editor, teria chances no mercado.
A questão não é ter um livro pronto ou não.
A questão é que eles escolheram não apostar em mim. Sabendo disso, me vejo sozinha em minha profissão, tendo que conquistar tudo na unha.
Por que alguns escritores são escolhidos e outros não?
Nunca vou saber.
Acredito que muitos escritores se sentem como eu: sabem que podem criar algo bonito se lhes dessem a oportunidade.
Sim, estou frustada.
Pergunto para mim mesma:
Por que eu ainda não consegui me encaixar no mercado literário?
O que mais preciso fazer para ser aceita?
Como posso lidar com essa frustração?
Eu não sei.
Porém, cada “não” recebido é como escorregar em um piso de porcelana encharcado de óleo.
Quero pegar o livro e reescrever inteiro, para mostrar que eles estão errados em não me escolher. Por algum motivo bizarro, digno de terapia, isso só aumenta a minha ambição.
Quero continuar trabalhando.
Volto, então, para 17/04.
Tinha esquecido do tom pesaroso e complacente. É incrível como podemos ser extremamente bondosos com nós mesmos quando sofremos. Eu poderia ter culpado a qualidade do texto (eu ainda sei que o livro não está pronto), poderia ter esmagado a mim mesma em depreciações, mas, mesmo estando arrasada, entendi o motivo pelo qual a rejeição me incomodou.
Eu poderia fazer muito melhor se tivesse um bom editor/editora me acompanhando no processo. Sei disso. É para isso que os editores existem, não?
Porém, eu não fui a escolhida.
Essa rejeição desperta em mim uma dor infantil e me transporta para o ensino fundamental, onde eu era a última a ser escolhida na Educação Física, não por ser ruim nos esportes, mas porque ninguém gostava de mim. Pode parecer clichê, mas para mim foi muito real ter que passar os intervalos na biblioteca porque não tinha amigos.
Olhando em retrospecto, talvez a culpa fosse minha, talvez a desagradável fosse eu, já que nenhuma criança me queria por perto.
Nunca fui a escolhida, em nada.
E no fim eu aprendi a gostar de escolher.
Aprendi a correr atrás do que eu queria.
Aprendi a não depender de ninguém.
Confesso, ser rejeita pela Companhia das Letras doeu por alguns meses. Porém, essa semana voltei a trabalhar no meu livro. Reestruturei a história. Vou reescrevê-lo.
Sabe, publiquei meu primeiro livro sozinha e posso publicar um segundo.
Querida leitora, perceba a força que tem e não permita que os "nãos" a impeçam de alcançar o que deseja.
Foi mal pelo papo motivacional, só estou reproduzindo o que digo para mim mesma todos os dias!
Oi, aqui é a Ana Barros, te convido para conhecer meu livro de estréia “As luzes de dois cérebros anárquicos” publicado pela Paraquedas e viabilizado pelo ProAc. Aqui você conhecerá Angela, uma mulher que está buscando a liberdade fora dos padrões sociais.
Olá, Ana! Eu fui rejeitada pela Companhia umas três vezes antes de me publicarem. Uma rejeição não significa que não te querem, significa apenas que não te querem agora (e os motivos podem ser inúmeros, desde uma pressão por histórias de diferentes backgrounds a uma falta de editores para trabalhar no seu material especificamente). Não desista, é assim mesmo
Eu nem me arrisco a enviar nada para essas Editoras grandonas e famosonas que só buscam os célebres e famosinhos do momento.